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Biografia de Joaquim Filipe Nery da Encarnação Delgado (1835-1908)

Joaquim Filipe Nery da Encarnação Delgado nasceu em Elvas no dia 26 de Maio de 1835. Em 1844 entrou para o Colégio Militar, continuando os seus estudos na Escola Politécnica. Em 1856, já graduado com o posto de sub-tenente de engenharia, trabalhou no Ministério das Obras Públicas onde pertenceu à comissão encarregue de estudar as medidas a tomar, contra as inundações do Mondego.

Entrou para a “Comissão Geológica” em 1857 como adjunto de Carlos Ribeiro, tendo assumido a direcção deste organismo de 1882 a 1908. Deixou uma obra científica notável, tendo a sua actividade incidido sobretudo no estudo dos terrenos paleozóicos e ante-paleozóicos de Portugal, sobre os quais publicou importantes trabalhos que ainda hoje, volvidos mais de 100 anos sobre a sua edição, continuam a ser de leitura obrigatória. Ocupou-se, além disso, de problemas de geologia aplicada e de estudos de pré-história.

Em 1867 foi publicado o seu primeiro estudo “Da existencia do homem no nosso solo em tempos mui remotos provada pelo estudo das cavernas. Noticia ácerca das grutas de Cesaréda“.

Exerceu os mais altos cargos públicos, tendo-lhe sido confiados numerosos cargos honoríficos, como a sua nomeação ao Conselho dos Monumentos Nacionais. Representou Portugal no Congresso Internacional de Paris (pré-história) e nos Congressos Geológicos de Bolonha, Londres e Zurique. Reformou-se da carreira militar com o posto de General de divisão em 1899. Foi homenageado com a grande cruz da Ordem Militar de S. Bento d’Aviz, comendador da Ordem de D. Isabel a Católica, oficial da Ordem da Legião de Honra, oficial da Ordem da Coroa de Itália e com medalhas em todas as exposições internacionais nas quais o Serviço Geológico estivesse presente. Foi membro correspondente na Academia das Ciências de Lisboa em 1875 e passou a membro efectivo em 1884. Foi vice-presidente da aula das ciências matemáticas, físicas e naturais e presidente da comissão da redacção do jornal dessa aula.

Foi sócio de várias associações científicas, entre as quais destacamos, em Portugal: Associação dos Engenheiros Civis, Instituto de Coimbra, Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais e Sociedade de Geografia de Lisboa, da qual foi vice-presidente, sendo também presidente da secção de geologia. No estrangeiro destacamos: membro correspondente do Instituto Geológico de Viena, Sociedade Académica franco-hispano-portuguesa de Toulouse, Sociedade das Ciências Naturais de Toulouse, Sociedade Antropológica de Berlim, das Academias de Ciências de Madrid e Barcelona, Sociedade Geológica de França, Sociedade Geológica Italiana, Sociedade dos Antiquários de Londres, Sociedade Geológica de Londres e Sociedade Geológica da Bélgica.

Nery Delgado casou em 1860 com D. Maria Ricardina Augusta da Fonseca, da qual teve 3 filhas que muitas vezes o ajudaram nos seus trabalhos de tradução e cópia.

Faleceu em 3 de Agosto de 1908 com 73 anos e sepultado em Lisboa no cemitério dos Prazeres em campa de família que ele tinha mandado construir após a morte de sua filha mais velha.

No elogio fúnebre, Paul Choffat (1908), seu companheiro de trabalho de tantos anos referia-se ao seu dizendo que “Nery Delgado possuía uma virtude essencial a um geólogo: a paciência. Era dotado de um carácter doce e afável, era estimado e o seu trabalho reconhecido por um grande número de compatriotas. [….] Foi um observador num país onde os trabalhos de observação são raros e pouco apreciados; o seu nome ficará para sempre ligado à geologia de Portugal, ao lado daquele que foi seu mestre e amigo, Carlos Ribeiro“.