O Engenheiro António Viana de saudosa memória, então Chefe dos Serviços Geológicos de Portugal, prestou serviço relevante a esta Instituição e em particular à Geologia portuguesa ao convidar para ingresso no mencionado Organismo científico, em 1940, o geólogo Doutor G. Zbyszewski. Com efeito, este investigador, desde os primeiros contactos com o nosso Pais, levou a cabo obra de grande merecimento durante mais de 40 anos de trabalho ininterrupto, realizado com entusiasmo, competência e dedicação inexcedíveis.
Começou as actividades geológicas em Portugal no ano de 1935, quando sob o patrocínio e conselho do Professor Jacques Boucart, seu mestre e amigo, veio efectuar observações sobre os terrenos quaternários do nosso litoral. Estes reconhecimentos tinham por finalidade a comparação com terrenos da mesma índole do norte de Marrocos que haviam sido estudados anteriormente por aquele Professor. Trabalhou então com o nosso comum e querido amigo A. de Medeiros Gouveia, que preparava a dissertação de doutoramento sobre o Algarve. São desse tempo alguns trabalhos efectuados em colaboração com este distinto geógrafo (a cuja memória rendo homenagem), referentes ao Quaternário do litoral ocidental do Algarve e Alentejo.
Uma vez investido nas funções de geólogo dos Serviços Geológicos de Portugal, em 1940, prosseguiu as suas actividades neste campo.
Depressa se adaptou aos hábitos da vida, portuguesa. A sua figura. imponente e inconfundível, devido à sua ocupação quase permanente em trabalhos de geologia de campo, passou, a bem dizer a fazer parte da paisagem do nosso Pais, mormente das províncias do Centro. Casou em Portugal. Os seus filhos são portugueses.
Do ponto de vista cientifico, foi autor, até hoje, de 281 publicações cientificas das, quais 23 referentes ao Neogénico e respectivas faunas fósseis de invertebrados, quer marinhos, quer continentais; outros tantos relativos a vertebrados do Miocénico; aos vertebrados do Mesozóico consagrou 8 trabalhos. O Quaternário português, as faunas e indústrias líticas pré-históricas do mesmo, mereceram-lhe nada menos do que 105 estudos, que abrangem todo o nosso território; os problemas do vulcanismo não só da área continental, mas também das Ilhas adjacentes, deram-lhe ensejo à elaboração e publicação de 26 trabalhos; a estudos de índole regional dedicou 10 publicações; no que diz respeito à Geologia aplicada efectuou 15 estudos de índole mineira; foi autor ou co-autor de 45 cartas geológicas de Portugal, na escala de 1/50 000 e respectivas notícias explicativas, das quais 9 relativas aos Arquipélagos da Madeira e dos Açores; deve acrescentar-se às antes referidas, 26 outras, publicações sobre assuntos diversos. Por este pequeno resumo, se (pode avaliar a extensão e a diversidade dos temas de que se ocupou na vasta obra produzida. Pelo que se referiu antes, conclui-se que foi e é, trabalhador excepcional que muito contribuiu para o avanço da Geologia portuguesa. Passemos porém em revista, embora rápida, alguns dos aspectos mais salientes da obra de G. Zbyszewski.
I – QUATERNARIO
Os problemas do Quaternário português constituem o tema a que este geólogo consagrou, como se disse, maior número de estudos. Efectivamente, o ilustre cientista percorreu pormenorizadamente o litoral português de norte a sul, explorou, pode dizer-se todos os níveis de praias antigas, pesquisou indústrias líticas pré-históricas, recolheu fósseis, efectuou observações demoradas em muitas delas.
Além disso, reconheceu, igualmente, muitos níveis de terraço, em particular os do vale do Tejo e afluentes. Reuniu, deste modo, elementos valiosos para a interpretação da evolução dos tempos modernos no nosso Pais. Compreende-se pois que tenha publicado, além de notas parcelares, valiosos trabalhos de síntese sobre este assunto, como “Le Quaternaire du Portugal” publicado em 1957.
Anteriormente, aparecera outro trabalho de síntese sobre “A classificação do Paleolítico antigo e a cronologia do Quaternário de Portugal” (1942).
Contribuição decisiva para o conhecimento dos terrenos quaternários é a que consagrou ao estudo da região de Alpiarça (1946), em que não só se aponta a distribuição e características dos terraços do Tejo nesta região, como se estudam as indústrias paleolíticas contidas nas cascalheiras ou, de qualquer modo, relacionadas com estes depósitos. A vinda, para Portugal, durante a 2ª guerra mundial, do Abade H. Breuil, grande especialista da arqueologia pré-histórica, deu ensejo a colaboração estreita entre os dois cientistas.
Dai resultou obra volumosa de que se salientam “Contribuição para o estudo das indústrias paleolíticas de Portugal e sua relação com a Geologia do Quaternário” (1942), cujo primeiro volume constitui o tomo XXIII das Comunicações dos Serviços Geológicos, dedicado ao estudo dos principais jazigos das duas margens do antigo estuário do Tejo, e o segundo volume, publicado no tomo XXVI, consagrado ao estudo dos jazigos das praias quaternárias do litoral da Estremadura e dos terraços fluviais do Baixo Vale do Tejo (1945). Além destas, foram muitas e numerosas as publicações referentes a assuntos da mesma índole, aparecidas posteriormente.
Ainda dentro do Quaternário, ocupou-se do estudo do espólio encontrado em grutas e abrigos que explorou ou em cuja exploração colaborou. Estão neste caso as grutas do Almonda (1941 e 1947), a lapa da Bogalheira (1941), da Maceira, Vimeiro (1949), a gruta de Ponte da Lage (Oeiras) (1957), de Salemas (Ponte de Lousa) (1962), da Columbeira (Bombarral) (1963), de Alcobertas (1971), a lapa do Bugio do mesmo ano.
Dentro deste grupo deve enquadrar-se o estudo das grutas artificiais do Casal do Pardo (Palmela).
Outros monumentos arqueológicos mereceram a atenção do Doutor Zbyszewski como, por exemplo os Tholoi da Praia das Maçãs (1961) e do Calhariz (Sesimbra).
Deve referir-se neste capitulo, os estudos de outros monumentos arqueológicos como, os das antas do Casal do Penedo (1951), de Casainhos e da Várzea de Sintra (1977).
Em 1967 publicou Zbyszewski o estudo sobre “Uma nova jazida Paleolítica de estilo microlusitaniana”, o jazigo do promontório do Morro, a oeste de Sesimbra.
II – PLIOCÊNICO
No campo da geologia do Pliocénico G. Zbyszewski publicou em primeiro lugar (1943) o resultado das suas investigações sobre o reconhecimento geológico da bacia de Rio, Maior, em particular, sobre a idade dos lignitos do Espadanal.
Na mesma data deu a conhecer a contribuição para o estudo do Pliocénico marinho a sul do Tejo.
Em 1949 publicou novo contributo para o conhecimento do Pliocénico português. Dois anos depois apareceu o estudo: “Nota sobre o Pliocénico da região a Oeste de Pombal, em colaboração, apresentada ao Congresso G. I. de Argel (1954). Realizou, também em colaboração, o estudo ido litoral pliocénico de Portugal.
Em 1967 tratou da geologia da bacia dos lignitos de Rio Maior e da região de Caldas da Rainha.
Em 1971 referiu-se igualmente, aos lignitos pliocénicos da região de Pombal. Estudou do mesmo modo as jazidas de diatomitos e a distribuição geográfica, das mesmas, em colaboração (1971).
III – MIOCÉNICO
O estudo dos terrenos miocénicos portugueses, mereceu ao Doutor Zbyszewski atenção particular; são por isso numerosos os estudos que publicou acerca deste sistema, tanto de índole puramente geológica, como paleontológica e estratigráfica. De facto, data de 1937, a primeira contribuição para o conhecimento de vertebrados terrestres do Neogénico. das vizinhanças de Lisboa.
Em 1941 apareceu o estudo acerca do Neogénico continental do Baixo Vale do Tejo (margem direita) .
Em 1944 ocupou-se da existência de algas fósseis encontradas no Miocénico, de Aljezur.
Em 1948 publicou estudo sobre o Miocénico da região de Bensafrim (Algarve). Este Miocénico é constituído por três retalhos, o de Corte do Bispo, Corte do Manuel Alves e Corte da Medronheira, que, embora conhecidos, não haviam sido estudados nem descritos.
O Aquitaniano de Lisboa e do Ribatejo deu ensejo a outra publicação, aparecida em 1954; por sua vez, o Burdigaliano, de Lisboa foi tratado em estudo de 1947. A fauna deste andar, de Lisboa, foi descrita pela mesma altura. Em 1961 voltou a ocupar-se de modo geral, do Aquitaniano de Portugal e da posição estratigráfica deste andar. Neste mesmo ano tratou das “Relações entre os meios miocénicos marinhos e continentais do nosso País”.
No ano seguinte apresentou, novamente, algumas considerações acerca da posição estratigráfica do Aquitaniano português ao qual se seguiu em 1964, outro de índole idêntica (“L’ Aquitanien du Portugal et sa place stratigraphique”). Outra publicação referente ao sistema Miocénico diz respeito aos terrenos desta idade da Serra da Arrábida, aparecida em 1967. Ainda neste ano publicou estudo sobre a descoberta de vertebrados fósseis no Miocénico da região de Leiria.
IV – PALEONTOLOGIA
No domínio da Paleontologia o Doutor Zbyszewski deu contributo notável para o avanço das investigações desta índole no nosso País, Foram de facto diversos os estudos que realizou acerca das faunas fósseis portuguesas, tanto de vertebrados como invertebrados. Dos primeiros começaremos por nos referir:
IV-1) – MAMÍFEROS
Dos estudos referentes a mamíferos fósseis, cita-se em primeiro lugar a descoberta do género Deinotherium em Portugal (1942) constituída por 2 molares implantados em fragmento de maxila, proveniente do areeiro do Miocénico superior (Vb), da Charneca, Lisboa. No ano seguinte deu a conhecer o estudo sobre o género Elephas do Quaternário de Portugal (Palaeoloxodon).
Em 1946 descreveu mandíbula de bebé Mastodonte encontrada, também no Helveciano Vb de Lisboa. Trata-se de caso raro de fossilização de peça óssea de animal muito jovem.
Em 1947 referiu o aparecimento de Hipparion gracile, do vale do Sado; o material estudado, é constituído por diversos dentes molares e fragmento de mandíbula, provenientes da quinta de Monte Novo do Concelho, a nordeste de Alvalade. Conjuntamente foram recolhidos dentes de esqualos (Oxyrhina e Carcharinus). A idade desta fauna situa-se no Pontiano. Três anos depois publicou artigo acerca dos restos de Hipopótamo e de Veado de Algoz. O primeiro, representado por diversos ossos fragmentados (fémur, tíbia, ossos do pé, falanges, metatársicos, etc.). Os Cervídeos são constituídos igualmente por diversos ossos, pertencentes a duas formas, de dimensões muito diferentes.
O hipopótamo pertence à espécie Hippopotamus Qmphibius major, enquanto que os cervídeos pertencem à espécie Cervus elaphus, o mais pequeno, e à raça canadensis, o maior. Esta fauna proveio de poço aberto em depósitos aluviais considerados do último interglaciário (Riss-Wurm).
No ano de 1951 descreveu Tetralophodon longirostris de vale da Matança (Alcácer do Sal). Dois anos mais tarde apareceu o muito valioso estudo acerca dos Mastodontes miocénicos de Portugal, elaborado de colaboração com F. M. Bergounioux e F. Crouzel, que constitui Memória dos Serviços Geológicos de Portugal. Esta importante contribuição paleontológica, contém 139 + 124 pp., 9 fig. no texto e 60 estampas. Através desta obra pode avaliar-se a extensão e adversidade da fauna destes vertebrados, que povoaram de modo extraordinário nos tempos miocénicos, a região de Lisboa e não só. “Os géneros Serridentinus eProtanancus das areias miocénicas de Lisboa”, foram igualmente tema de publicação dos três citados autores em 1951.
Em 1952 teve lugar a publicação de outro trabalho de índole paleontológica consagrado aos mamíferos miocénicos de Quintanelas (Sabugo), constituídos por restos de Hispanotherium, Procervulus, Hyaemoschus,Deinotherium, e Trilophodon,
No ano seguinte apareceu, publicação sobre mandíbula de Isocetus encontrada na Mutela – Isocetus pauwii.
Em 1954 foi publicada nota referente à descoberta de mandíbula de Paleoziphius do Miocénico de Melides.
Os mamíferos do Concheiro da Moita do Sebastião Muge) deram ensejo a estudo aparecido em 1956. Em 1965 publicou pequeno artigo intitulado “Observações acerca da idade de três jazidas de vertebrados terciários” do nosso País.
Estas jazidas são:
1) Argilas de Coja (Arganil), onde foram descobertos ossos de Palaeotherium cujo conhecimento permitiu classificar como paleogénicos os depósitos que os continham e por extensão, outras formações da Beira Baixa;
2) A segunda refere-se às formações da Filigueira Grande. De facto, desta jazida provêm restos fósseis de Anchilophus, mamífero perissodáctilo, considerado igualmente, de idade ludiana, descrito em colaboração com L. Ginsburg.
3) A terceira jazida é representada por defesas de Mastodonte, encontradas em camadas argilo-areníticas da encosta das Portas do Sol (Santarém).
Os mamíferos miocénicos dos areeiros da Formiga (Azambuja) foram objecto do estudo por parte deste geólogo (1971), em colaboração com outros.
Os mamíferos aludidos compreendem Palmotragus, Triloplvodon, Deinothertum e Aceratherium.
Em 1967 apresentou à Academia das Ciências Comunicação sobre a descoberta de vertebrados fósseis no Miocénico de Amor (Leiria). É do mesmo ano a Noticia referente ao Mastodonte do “Pliocénico” de Santarém.
Em trabalho publicado posteriormente em 1972, de colaboração, alude a texto inédito de J. Viret sobre o Hispanotherium (Rhinoceratidae), com alguns elementos complementares.
Finalmente, em 1977, ocupou-se do estudo de 3 ossos de vertebrados quaternários. Estes restos fósseis são:
1) Falange de Palaeloxodon antiquus do Baixo Terraço de Santo Antão do Tojal;
2) Unciforme de Elefante ou Baleia, utilizado e aperfeiçoado pelo, homem pré-histórico, encontrado na área de Alpena (Trafaria).
IV-2) – RÉPTEIS
Foi, do mesmo modo, notável a contribuição, do Dr. G. Zbyszewski para o conhecimento dos répteis fósseis mesozóicos de Portugal. Entre os trabalhos publicados merecem referência os de 1946 sobre os ossos de Omosaurus descobertos perto do Baleal (Peniche). Noticiou em 1951 a descoberta de fauna de répteis Dinossáurios no Jurássico superior de Portugal, em colaboração com A. de Lapparent. No mesmo ano descreveu um Estegossaurio novo do Lias do nosso País. Publicou além disso, neste mesmo ano, o estudo das pegadas de Dinossáurios Jurássicos do Cabo Mondego.
Em 1952 deu a conhecer: Restos de Ichtyosaurios do Lias de Portugal. Em 1957 publicou importante memória, em colaboração com A. de Lapparent consagrada aos Dinossáurios de Portugal.
É obra, valiosa em que são referidos e descritos os numerosos restos fósseis reptilianos encontrados no nosso Pais. Contém 69 pp. de texto acompanhado, de 12 fig. e 36 est.
IV-3) – PEIXES
Entre os fósseis portugueses estudados, e descritos pelo Doutor G. Zbyszewski encontram-se alguns peixes entre os quais merecem citação Aetobatis arcuatus estudado em 1947 proveniente do Helveciano VIa da Quinta das Varandas (Beato). É do mesmo ano a descrição de rostro de grande Pristis no mesmo andar do Miocénico de Lisboa.
Em 1950, apareceu o estudo feito em colaboração, sobre os peixes miocénicos portugueses. Finalmente refere-se o estudo acerca de um Picnodontidio do Cenomaniano dos arredores de Lisboa.
IV-4) – INVERTEBRADOS
Entre os estudos que consagrou à Paleontologia dos invertebrados mencionaremos:
A fauna de Cacela no Algarve (1940).
A estes estudos, devem acrescentar-se, os referentes ao Aquitaniano e ao Burdigaliano de Portugal, nos quais o autor inclui a descrição das respectivas faunas de moluscos e outros invertebrados. Estes estudos foram citados nas páginas anteriores.
Acontece o mesmo quanto à fauna de moluscos do Pliocénico da bacia das Caldas da Rainha.
Refira-se ainda a fauna miocénica da ilha de Santa Maria (Açores) 1962.
V – TIFONISMO
O tifonismo (ou diapirismo) foi assunto da muito predilecção do geólogo Zbyszewski, talvez pelo facto de ter sido chamado a colaborar nos trabalhos de Geologia económica levados a cabo no nosso País para pesquisa de sais de potássio. O Doutor Zbyszewski interessou-se mesmo pela explicação do mecanismo dos fenómenos tifónicos, tendo engendrado experiências com essa finalidade, conforme se verifica pela publicação do Ensaio de estudo experimental acerca dos fenómenos tifónicos” (1947). Reconheceu também a existência em Portugal de tectónica salífera pliocénica (1948). O interesse pelo tifonismo da parte deste investigador levou-o a escolher tal assunto como tema da dissertação de doutoramento “Estudo estrutural” da área tifónica de Caldas da Rainha (Portugal) (1959), apresentada à Universidade de Paris em 1958 – Doutoramento de Estado. Esta Memória de 180 páginas contém além de generalidades sobre os fenómenos tifónicos o enquadramento geográfico das áreas tifónicas, a constituição geológica das mesmas, estudo da fauna pliocénica, a tectónica, recursos mineiros, prospecção geofísica, sondagens, conclusões finais. Inclui mapas e cortes geológicos, estampas, etc.
No âmbito desta matéria situa-se ainda o trabalho sobre a jazida de salgema da Fonte da Bica (Rio Maior) (1961), bem como o estudo da sondagem de Parceiros (Leiria) (1947), efectuada no salgema deste vale tifónico.
VI – ESTUDO DE ÍNDOLE REGIONAL
Diversos estudos realizados pelo Doutor G. Zbyszewski podem reunir-se sob a rubrica de “Estudos de índole regional”. Estão nesse caso “Contribuição para o estudo do Complexo basáltico” de Lisboa – 1952 em colaboração.
Enquadra-se no mesmo conjunto: o, estudo geológico da região de Almeirim (1947). Este estudo constitui autêntica monografia da região na qual são tratados os aspectos estratigráficos, paleontológico e da evolução do vale do Tejo, isto é da Paleogeografia desta parte do território, desde o Miocénico até o Quaternário, tendo em conta os acidentes tectónicos que a influenciaram. A monografia é acompanhada por cortes e mapas geológicos além de estampas diversas com vistas elucidativas.
Encontra-se em condições idênticas o estudo Geológico da Região de Alpiarça (1946). Tal como no anterior, são descritas as formações geológicas essencialmente plio-plistocénicas. Quanto ao Quaternário, estabelecem-se duas escalas, uma baseada em elementos estratigráficos e morfológicos e a outra nas indústrias paleolíticas, cuja utilidade é desnecessário encarecer como gula, ou modelo, de estudos futuros desta índole.
A monografia é acompanhada de cortes geológicos, estampas e mapas geológicos da região. O estudo da região de Santarém, pertence ao mesmo domínio (1954). Pode incluir-se neste capítulo o “Panorama, sobre a geologia da cidade de Lisboa”, 1947.
São da mesma natureza a resenha geológica do concelho de Cascais, 1964. Entram certamente neste grupo a “Contribuição para o conhecimento da geologia da Ilha do Pico”, (1964), o trabalho sobre o “reconhecimento geológico da Ilha das Flores”, (1966), bem como a “Contribuição para o conhecimento da geologia do distrito de Ponta Delgada, Açores”, (1962), além de outros.
VII – FORMAÇÕES ERUPTIVAS
Foram importantes e variados os estudos realizados pelo Doutor G. Zbyszewski, no domínio das rochas eruptivas, em particular da geologia e cartografia dos terrenos vulcânicos portugueses.
O primeiro estudo consagrado a este tipo de formações foi o publicado em 1942 sobre os terrenos eruptivos do Cabo de Sines.
Anos depois. em 1952, em colaboração com A. de Jesus, publicou artigo intitulado “Contribuição” para, o estudo, antes referido, sobre o complexo basáltico de Lisboa. Sobre o mesmo assunto foi apresentada pelos autores aludidos, comunicação no Congresso Geológico Internacional de Argel, em 1954.
Dois anos depois, inaugura a série de estudos consagrados às ilhas adjacentes, com a publicação de artigo sobre o “Vulcão das Furnas”, S. Miguel. Açores (1954).
Em 1959 publicou nova contribuição para o conhecimento do vulcanismo da ilha do Faial, e a erupção do vulcão dos Capelinhos.
Os fenómenos vulcânicos modernos das Ilhas dos Açores, mereceram-lhe artigo muito ilustrado, publicado em 1963.
À erupção do vulcão dos Capelinhos, Faial, Açores, dedicou importante estudo dado a conhecer em 1961.
No mesmo ano foi publicado estudo geológico sobre a ilha de S. Miguel, assim como o referente aos ilhéus Formigas, realizado em colaboração. Ocupou-se igualmente da erupção do Pico do Sapateiro em S. Miguel.
Em 1962, voltou a tratar da erupção do vulcão dos Capelinhos, em relação com a estrutura da ilha do Faial.
Neste mesmo ano, saiu artigo sobre geologia do distrito de Ponta Delgada e ao mesmo tempo que o da ilha do Pico. Além destes, publicou o estudo geológico, da ilha de Santa Maria. Finalmente merece citação o artigo “Primeira tentativa de correlação entre os fenómenos vulcânicos ocorridos no arquipélago dos Açores” (1970).
VIII – CARTOGRAFIA GEOLÓGICA
No domínio da cartografia geológica foi notável a contribuição deste geólogo; a ele se deve grande parte da cartografia geológica do País até agora publicada. Se é verdade que a cobertura de mapas geológicos na escala de 1/50 000 não atingiu ainda sequer metade do território, facto lamentável e desprestigiante, pois priva o desenvolvimento, económico do País de elemento primordial, não só para o planeamento como para a execução de muitos trabalhos de índole nacional, não é menos certo que ao Doutor Zbyszewski pertencem quase metade das cartas geológicas existentes. Ao pôr em evidência este aspecto, não pode deixar de reconhecer-se a necessidade de seguir o exemplo dele, de promover todos os esforços para rapidamente concluir os mapas que faltam.
Pelo que diz respeito à cartografia, de que foi responsável mencionam-se as cartas seguintes:
1 – Carta geológica de Portugal, na escala de 1/50 000 e respectivas notícias explicativas; o ilustre geólogo foi autor ou co-autor dos mapas seguintes:
Folha 31-A – Santarém (1952)
Folha 30-C – Torres Vedras (1955)
Folha 26-D – Caldas da Rainha (1960)
Folha 26-C – Peniche (1960)
Folha 30-A – Lourinhã (1961)
Folha 38-B – Setúbal (1961)
Folha 22-D – Marinha Grande (1961)
Folha 46-A – Castro Verde (1964)
Folha 30-D – Alenquer (1965)
Folha 22-B – Vieira de Leiria (1965)
Folha 30-B – Bombarral (1966)
Folha 35-C – Santo Isidro de Pegões (1968)
Folha 23-C – Leiria (1968)
Folha 31-C – Coruche (1968)
Folha 35-A – Santo Estêvão (1969)
Folha 27-C – Torres Novas (1971)
Folha 40-C – V. do Alentejo (1972)
Folha 39-A – Águas de Moura (1976)
Folha 35-B – Mora (1979)
Folha 27-D – Abrantes (1979)
Além destas folhas preparou as notícias explicativas das “cartas geológicas e dos arredores de Lisboa”.
Folha 1 – Sintra (1961)
Folha 2 – Loures (1964)
Folha 3 – Cascais (1961)
Folha 4 – Lisboa (1963)
Colaborou ainda na notícia explicativa da folha de Aveiro.
Foi responsável igualmente pelas noticias explicativas das folhas 23-A (Pombal), folha 31-B (Chouto) -1979.
Entre os trabalhos de cartografia avultam os elementos geológicos das ilhas adjacentes em que o Doutor G. Zbyszewski teve papel proeminente, pois foi o responsável científico principal deste empreendimento,. Quase todo o território insular foi coberto por cartografia geológica.
Na escala de 1/50 000 foram publicadas as folhas seguintes e respectivas notícias explicativas das Ilhas dos Açores.
1 – Ilha de S. Miguel (Folha A) – 1959
2 – Ilha de S. Miguel (Folha B) – 1958
3 – Ilha de Santa Maria – 1961
4 – Ilha do Pico (Folha A) – 1963
5 – Ilha do Pico (Folha B) – 1963
6 – Ilha Terceira -1971
Deste mesmo arquipélago na escala de 1/25 000 foram dadas à estampa as folhas de:
Ilha do Faial – 1959
Ilha do Corvo – 1967
Ilha das Flores – 1968
Ilha da Graciosa – 1972
Pelo que diz respeito ao arquipélago da Madeira, sob a responsabilidade científica do mesmo geólogo, foram publicadas em condições idênticas as folhas de:
Ilha da Madeira – Folha A – 1975 – (1/50 000)
Ilha da Madeira – Folha B – 1975 – (1/50 000)
Ilhas Desertas – 1975 – (1/50 000)
Ilhas Selvagens -1979 -(1/25 000)
Além dos mapas antes indicados o Doutor G. Zbyszewski publicou o mapa do Quaternário de Portugal, escala de 1/1000 000 e respectiva notícia explicativa (1971). Publicou também em 1965 a versão francesa da noticia da Carta Mineira de Portugal.
IX – HIDROGEOLOGIA
Os problemas de hidrogeologia constituíram assunto de que se ocupou o geólogo aludido. Assim, a este capítulo dedicou os trabalhos: “Contribuição para a geohidrologia da bacia de Rio Maior” (1961); “Hidrogeologia Geral do Centro e Sul de Portugal” (1971); “Contribuição de algumas sondagens de pesquisa e captação de água para o conhecimento hidrogeológico da região de Aveiro” (1971). Merecem ainda referência embora realizados e publicados antes do ingresso do Doutor Zbyszewski como geólogo dos Serviços Geológicos, os estudos de Hidrologia relativos, o primeiro, a “Um caso de hidrologia subterrânea no Norte de Portugal: a bacia de Chaves” (1938), o segundo intitulado “Ensaio sobre a hidrologia da Bacia do Sado (1939).
X – GEOLOGIA ECONÓMICA
No domínio da geologia económica efectuou diversos estudos não só sobre jazigos de carvão, como acerca de jazidas de gesso e de salgema, pesquisa de águas. etc.
Mencionaremos entre eles em 1943 – o estudo geológico sobre os lignitos do jazigo de Espadanal mencionado antes.
Pertence ao mesmo capitulo o estudo da sondagem de Parceiros (Leiria) relativas à pesquisa de sais de potássio em Portugal (também referido antes).
Da mesma índole é o trabalho sobre a região carbonífera do Moinho da Ordem, sondagens entre Vale de Figueira e a Cova dos Sobreiros – 1951.
Enquadra-se neste domínio o estudo intitulado: “Alguns casos práticos da utilidade da geologia no estudo da Ilha de S. Miguel (1959)”. Outro estudo a referir aqui é o consagrado às jazidas de salgema de Fonte da Bica (Rio Maior) – 1961.
Pertence ao mesmo domínio o estudo das jazidas de gesso em Portugal publicado em 1964.
Faz parte do mesmo conjunto estudo geológico da bacia dos lignitos de Rio Maior aparecido em 1967, bem como o estudo dos jazigos de lignito da região de Caldas da Rainha, da mesma data.
Pode referir-se ainda o artigo sobre: “O aparecimento de gás na Gafanha da Boa Hora – Vagos” de que se ocupou em 1967. É da mesma índole o estudo relativo a “Ocorrências de lignito no Pliocénico da região de Pombal”. Fazem parte do mesmo conjunto os artigos “Posição e distribuição geográfica das jazidas de diatomitos”, 1971; “Uma ocorrência de lignito em Vale de Santarém”, 1969.
Acrescente-se o artigo “As possibilidades de aproveitamento da energia geotérmica nos Açores”, 1970.
Finalmente outro estudo de índole económico foi consagrado ao salgema em Portugal metropolitano, suas jazidas, características e aproveitamento (1971).
XI – DIVULGAÇÃO
Embora pouco numerosos, o nosso biografado preparou alguns trabalhos de divulgação como seja o “Tempo, dos Dinossauros” (1956); a Importância das Grutas em Pré-história
XII – OBRAS DE ÍNDOLE HISTÓRICA
Prestando homenagem à memória de Carlos Ribeiro e de Nery Delgado, o Doutor Zbyszewski distribuiu (1949) acompanhadas de explicação sua – duas cartas geológicas inéditas de Carlos Ribeiro e Nery Delgado, bem como outra obra póstuma do primeiro daqueles geólogos: “aspectos da costa portuguesa entre o estuário da ribeira de Maceira e Pedra do Frade a Oeste de Sesimbra”, 1949. Enquadra-se no mesmo intuito o artigo intitulado “uma carta inédita” de W. Reiss a Carlos Ribeiro merca dos terrenos Terciários dos Açores e da Madeira (1970).
Merece ser salientado o carinho e a consideração manifestados pelo Doutor G. Zbyszewski pela memória do seu grande amigo Abade H. Breuil, à qual dedicou os artigos evocativos intitulados “O Abade Breuil: grande figura da Pré-história e do pensamento cientifico”, (1962): “O Abade Breuil e a sua contribuição para o estudo da Pré-história portuguesa”, (1962) e finalmente merece ser referido “Adeus Abade Breuil – últimas palavras que dirigiu ao seu Mestre”, (1966). Lembre-se ainda que recordou igualmente o verdadeiro Mecenas dois trabalhos do saudoso arqueólogo e os seus próprios, o industrial, compatriota de ambos, Maxime Vaultier, em artigo publicado em 1971.
O Doutor Georges Zbyszewski, geólogo francês, nasceu em Gatchnina (Rússia) em 22 de Outubro de 1909. Estudou em Paris onde concluiu a licenciatura em Ciências em 1931, após o que foi assistente do Prof. J. Boucart no Laboratório de Geografia Física e de Geologia Dinâmica da mesma Faculdade. Em 1935 foi incumbido da realização de Missão científica em Portugal, subvencionada pela Comissão das viagens e missões científicas e literárias de França. Esta missão foi prorrogada sucessivamente em 1938-39. Recebeu igualmente, subsídios durante estes anos, do Instituto de Alta Cultura de Portugal. Em 1939 foi bolseiro do Serviço Central de Investigação Científica de França.
Tendo em conta o trabalho prestigioso realizado pelo ilustre geólogo francês distinguiu-o com a condecoração do grau de Cavaleiro da Ordem das Palmas Académicas (Educação Nacional) em 1959; mais tarde, em 1969 foi-lhe conferida segunda condecoração, a de Cavaleiro da Ordem Nacional do Mérito, pelo mesmo Governo.
Em 1958 ingressou como sócio correspondente, estrangeiro, na Academia das Ciências de Lisboa. É membro efectivo de numerosas outras instituições e sociedades científicas, nacionais e estrangeiras. No nosso país tem sido vogal da Junta Nacional de Educação.
No domínio do ensino foi chamado a exercer as funções; de professor auxiliar da Faculdade de Ciências de Lisboa a partir de 1973. Participou em diversos júris de concursos e doutoramentos. Fez parte de numerosas missões científicas, em particular como representante dos Serviços Geológicos de Portugal, entre elas as do reconhecimento geológico e cartografia das Ilhas Adjacentes. Participou em muitos Congressos Científicos, nomeadamente nos Congressos Internacionais de Geologia de: Londres (1948); Argel (1952); Copenhague (1960) e Praga (1968). Tomou parte no Congresso Internacional de Ciências Pré-históricas e Proto-históricas de Madrid (1954). Nomeado no Congresso de Argel membro da Comissão das Cartas Geológicas da Europa e do Mundo e no IV congresso da INQUA – Roma (1953) para a Comissão das linhas litorais. Participou nas reuniões das Comissões da Carta Tectónica; na dos jazigos de ferro e na dos jazigos de carvão da Europa, em Paris (1960, 1962).
Representante permanente dos Serviços Geológicos de Portugal na Comissão de Estratigrafia do Congresso Geológico internacional (1956). Participou em muitos outras reuniões e congressos científicos nacionais e internacionais.
O limite de idade legal (70 anos) que há poucos meses o libertou de todas as obrigações de Funcionário de Estado, atinge-o felizmente em estado de completo vigor físico, em condições plenas de trabalho, pelo que, conhecida a sua dedicação à Geologia, sem dúvida prosseguirá a obra que realizou até agora, com a mesma dedicação e amor, nunca desmentidos. Neste aspecto muito há esperar ainda da actividade do prestigioso geólogo, em prol da Geologia portuguesa.
Que o exemplo dele possa servir de incentivo e guia dos geólogos do nosso País, mormente dos da Direcção Geral de Geologia e Minas.
Ao fazer o elogio do seu Mestre e Amigo Abade H. Breuil pôs em destaque as palavras deste grande homem de ciência pronunciadas na Faculdade de Letras de Lisboa: “O amor sem limites pela verdade é disposição fundamental do espírito, sem o qual nenhuma vida humana, tanto religiosa como científica é digna desse nome. “Tal é o princípio que orientou os meus passos, que nunca infringi, nem para ser cristão convicto, nem para servir a ciência com o entusiasmo que sempre me animou”. Noutro local G. Zbyszewski escreveu acerca do seu Mestre: “…foi amigo fiel e devotado, cristão fervoroso, homem recto e defensor da justiça”.
Todos os que têm convivido com o Doutor Zbyszewski conhecem quais as qualidades, que lhe são peculiares, como homem e como cientista, a seriedade de todos os seus actos, o entusiasmo, a lhaneza e simpatia do seu trato, o entusiasmo e honestidade que orientam o trabalho que realiza.
Com propriedade, se podem aplicar-lhe os conceitos expostos que serviram de norma de vida a Henry Breuil. O discípulo é digno do Mestre.